sexta-feira, 28 de setembro de 2012

CONFRONTO

Confrontar significa por frente a frente, confirmar, estar ante, acarear. Ouvimos e vivenciamos esta palavra em nosso dia a dia, é algo que temos como normal. O cerne do problema é quando entramos em nosso próprio casulo e nos confrontamos com nós mesmo. São instantes de batalhas em nosso palco psíquico que tentamos fugir. A questão é que esta batalha é traçada entre nós e nós mesmo. 

Nos sentimos completamente amordaçados enquanto verdades reais que não aceitamos nos confrontam e afrontam. Temos o hábito de criar uma imagem sobre nós mesmos e vendermos esta imagem. O triste, é que quando somos de uma forma ou outra confrontados, descobrimos no espelho do confronto que esta imagem é uma válvula de escape. Nossa mente é um terreno inóspito, sinuoso e cheio de segredos, um espaço infinito.

Por vezes nos mostramos tão fortes, vendemos esta imagem, mas no recôndito, não passamos de um bebê recém nascido querendo colo. Não é fácil administrar isso. Muitos não assumem suas mazelas. Temos que considerar que nenhum ser humano é completamente estável ou coerente. Pode até parecer ser, mas no fundo, tem seus níveis de flutuações. Por vezes, conseguimos omitir, mas nem sempre isso é possível. Em cada ser humano, ao mesmo tempo que existem tesouros escondidos, também existem escombros omitidos que sofrem. Gritos que ninguém ouve. Quando porém somos confrontados por nós mesmo em nosso palco psíquico, ouvimos todos os nossos gritos interiores, vemos e revemos todos os escombros e claro, também encontramos tesouros escondidos.

Por mais que divulgamos a "imagem" de racionais e cartesianos, quando confrontados, encontramos nos escombros o ser humano emocional e carente que tanto tentamos omitir, mas que existe. Não sei se o melhor é  continuar omitindo, silenciar ou assumir. Não há resposta. É uma questão de escolha. Mas qual a melhor escolha? Nunca iremos saber.

Se racionais e cartesianos, quando confrontados, sofremos, choramos, porque não afloramos nosso lado emocional. Se emocional, quando confrontados, também sofremos por não ter sido racional. E então... Qual a melhor escolha? Quanto mais leio sobre ser humano e tento decifrá-lo, somente encontro perguntas e não respostas. A única certeza que nos resta afirmar, após o nosso auto-confronto é que nenhum pensamento é vestido de verdades absolutas. Tudo é questionável. Nossas atitudes. A imagem que vendemos sobre nós mesmo e a imagem que de fato somos em nosso recôndito. Acho que é essa complexidade que nos torna seres humanos fascinantes. Usamos do universo cartesiano da racionalidade para protegermos e blindarmos nossas emoções. Blindamos. Vendemos esta imagem.

Como a vida nos surpreende com várias surpresas, em algumas situações, por mais racionais que sejamos, as emoções afloram e conseguem romper toda nossa blindagem... Estes de fato são os maiores enigmas do universo que ninguém consegue decifrar.

O que fazer quando somos confrontados por nós mesmos? Talvez chorar, admitir que no recôndito não somos a imagem que vendemos, saber passar pelo confronto, e como "tudo passa", esperar passar e voltar à nossa imagem exterior... Enfim, é um desafio...  É um dos maiores desafios do ser humano. O ideal seria que nestes momentos de "confrontos" abríssemos em nossa mente um leque de alternativas com respostas inteligentes em situações que quando confrontados, conseguíssemos fazer as escolhas certas.

Concluímos que somos especialistas em gerir o mundo em que estamos, mas não conseguimos gerir o mundo que somos... Same mistake (o mesmo erro). Após os gritos calados do confronto, temos a chance   de  despirmos do ser "racional" e da "imagem vendida" e darmos uma credibilidade ao ser "emocional". É uma questão única e particular de escolha. Qual a melhor escolha?  Não sabemos se existe melhor escolha. As duas fazem parte da nossa bela complexidade humana. 

É incrível, mas é como algumas frases da belíssima música "same mistake" (o mesmo erro). I´m screaming at the top of my voice (estou gritando no topo da minha voz), give me reason, but don´t give me choice (me dê razão, mas não me dê escolha), cause I´ii just make the same mistake again (porque cometerei o mesmo erro outra vez), and I wonder (eu desejo saber), where, did I go wrong (onde foi que eu errei?)

by Fábia Braga.